domingo, 21 de agosto de 2016

Origamis

     A criança fazia arte com papel...

   E porque fazia, acharam por bem obrigá-la a fazer mais, sempre mais, nunca era suficiente.

     Foi isso que ela me contou:
     Quando foi obrigada, perdeu o prazer que sentia no tempo em que se ocupava com as dobraduras e esquecia do mundo. Essa era a graça, não é mais. Teve que passar horas se dedicando a algo que antes servia apenas para esvaziar a mente. O devaneio, antes provocado pelo dobrar do papel, deu lugar ao “tenho que fazer... tenho que entregar... tem que ser perfeito... cada mínimo detalhe conta... as pessoas vão julgar...”, “Por que estou fazendo isso se não mais me encanta?”

     A obrigação é inimiga da vontade, acredito.

     Se antes ela buscava aprender mais sobre isso e se deleitava quando, enfim, conseguia reproduzir o que aprendia, hoje ela se angustia quando passa tempo demais dobrando papeis.
     
     Ela perdeu o tesão.

     E ainda era criança...

     Hoje em dia, se o assunto for mostrar aos outros seus trabalhos, há receio nítido em seu olhar. Ela os faz para si, não quer perder outro hobbie para a necessidade dos outros, porque eles não entendem o significado de cada coisa que ela molda. Ela protege o que sabe fazer a sete chaves, só mostra a quem confia.

     Seu principal argumento para agir assim é bem simples: como pode algo que sai do seu coração, da forma mais espontânea possível, carregado de seus sentimentos mais profundos, ser forçado para fora e levado ao limite?

     Não pode! Fica artificial.

     Dito isso, minha sugestão a todos que estão lendo não será contrária ao que me contou a criança, então: mantenha para si cada detalhe do que você mais ama, se assim preferir. Faça para si cada detalhe dos seus “origamis”, olhe atentamente e goste daquilo que fez. Quando algo não satisfizer mais sua ânsia por tranquilidade, mude de hobbie, não precisa ter medo.


     Só não perca o tesão pela vida, só não perca a força que te impulsiona.