A criança fazia arte com papel...
E porque fazia, acharam por bem
obrigá-la a fazer mais, sempre mais, nunca era suficiente.
Foi isso que ela me contou:
Quando foi obrigada, perdeu o
prazer que sentia no tempo em que se ocupava com as dobraduras e esquecia do
mundo. Essa era a graça, não é mais. Teve que passar horas se dedicando a algo
que antes servia apenas para esvaziar a mente. O devaneio, antes provocado pelo
dobrar do papel, deu lugar ao “tenho que fazer... tenho que entregar... tem que
ser perfeito... cada mínimo detalhe conta... as pessoas vão julgar...”, “Por
que estou fazendo isso se não mais me encanta?”
A obrigação é inimiga da vontade,
acredito.
Se antes ela buscava aprender
mais sobre isso e se deleitava quando, enfim, conseguia reproduzir o que
aprendia, hoje ela se angustia quando passa tempo demais dobrando papeis.
Ela perdeu o tesão.
E ainda era criança...
Hoje em dia, se o assunto for
mostrar aos outros seus trabalhos, há receio nítido em seu olhar. Ela os faz
para si, não quer perder outro hobbie para a necessidade dos outros, porque
eles não entendem o significado de cada coisa que ela molda. Ela protege o que
sabe fazer a sete chaves, só mostra a quem confia.
Seu principal argumento para agir
assim é bem simples: como pode algo que sai do seu coração, da forma mais
espontânea possível, carregado de seus sentimentos mais profundos, ser forçado
para fora e levado ao limite?
Não pode! Fica artificial.
Dito isso, minha sugestão a todos
que estão lendo não será contrária ao que me contou a criança, então: mantenha
para si cada detalhe do que você mais ama, se assim preferir. Faça para si cada
detalhe dos seus “origamis”, olhe atentamente e goste daquilo que fez. Quando
algo não satisfizer mais sua ânsia por tranquilidade, mude de hobbie, não
precisa ter medo.
Só não perca o tesão pela vida, só
não perca a força que te impulsiona.