Era
um caminho como tantos outros, com pedras, tortuoso, escorregadio por causa da
água que escorria, parecia assustador e traiçoeiro. Meu coração batia tão
rápido, meus sentidos sobrecarregados tentando absorver tudo, minha mente a mil
por hora: uma nova vida, um novo começo, tudo diferente e eu estaria sozinha.
Mal percebi quando a primeira delas cruzou a estrada. Uma borboleta azul, clara
como o céu, se destacando no meio do padrão verde e cinza monótono, não tinha
como não ver. Depois vieram as outras, todas da mesma cor, dos mais diferentes
tamanhos, reduzindo a importância dos obstáculos e do medo.
Algum
tempo depois percebi que aquelas borboletas azuis aparecem sempre que eu
preciso lembrar qual caminho devo seguir, me acompanham e melhoram meu humor,
me emprestam suas cores. As vezes elas têm asas, as vezes não. Como pode
borboleta sem asa? Eu explico: essa história pode ser interpretada literalmente
e ainda será verdadeira, mas a verdade nessas linhas é diferente, porque minhas
borboletas azuis têm nome, andam por ai serelepes e pimponas, nas terras das
Minas Gerais, dos Aires, das Garças Brancas, da Nossa Senhora, do Cristo
Redentor. Longe ou perto, fazem meu caminho mais leve e mais bonito.
É
verdade que não estou livre do medo ou dos tropeços, longe disso, porém sou
mais feliz por tê-las no meu caminho e por ainda ser capaz de enxergar a beleza
da vida a partir daquele azul-céu agora tão familiar. Eu as escolhi e acredito
ter sido escolhida também. Tenho uma família inteira de borboletas azuis,
apesar de não tê-las de verdade, já que elas são livres para ir, e bem vindas
se quiserem ficar.
Vocês
deviam ver que lindo quando elas voam.
Talvez
eu seja meio borboleta azul também, não sei, tem dias que parece que sim, e se
não sou, quero ser.
Mas
se eu for, que beleza vai ser voar por ai.
Fonte: http://www.ra-bugio.org.br/especies/469.jpg